A COVID 19 é uma doença infecciosa, de rápida transmissão e extremamente contagiosa, da síndrome respiratória aguda grave (SARS-coV-2), que apresenta um espectro clínico variando de infecções assintomáticas a quadros graves. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a maioria (cerca de 80%) dos pacientes com COVID 19 podem ser assintomáticos ou oligossintomáticos (poucos sintomas), e aproximadamente 20% dos casos detectados requer atendimento hospitalar por apresentarem dificuldade respiratória, dos quais aproximadamente 5% precisarão de ventilação mecânica.
Os sintomas do COVID-19 podem variar desde um resfriado leve até um quadro de penumonia severo. Os sintomas mais comuns são: tosse, febre, coriza, dor de garganta, dificuldade de respirar, perda de olfato (anosmia), alteração do paladar (ageusia), distúrbios gastrointestinais (náuseas/ vômitos/ diarréia), cansaço (astenia), diminuição do apetite (hiporexia) e dispnéia (falta de ar).
A transmissão do vírus pode acontecer por meio de: toque de aperto de mão contaminada, gotículas de saliva, espirro, tosse, objetos ou superfícies contaminadas, como celulares, mesas, talheres, maçanetas, brinquedos, teclado de computador, entre outros.
No dia 11 de Março de 2020, a Organização Mundial da Saúde decretou que o surto de COVID-19 evoluiu para uma pandemia, ou seja, a doença espalhou por todo o planeta ocorrendo transmissão contínua. Com o surto do vírus, veio a preocupação de muitos estudiosos, pois pode reduzir os níveis de atividade física da população, e esse sedentarismo resultar em perda da condição física, mental e de saúde.
A prática regular de atividade física é essencial, tanto para tratamento quanto para prevenção de doenças. Vale ressaltar também a relação deste com o sistema imunológico. Estudos apontam que a prática de exercícios físicos é fundamental para fortalecer o sistema imunológico, inclusive diminuindo a incidência de doenças transmissíveis como as infecções virais, como o SARS-coV2.
A importância dos exercícios físicos para fortalecer o sistema imunológico:
A prática regular de exercícios físicos é essencial para todos, válida para os grupos de riscos ou não, com o objetivo de melhorar o sistema imunológico, a ansiedade, o estresse, a depressão, entre outros. Essa recomendação se estende a pessoas em distanciamento social que não estejam infectadas pelo SARS-coV2 e para as pessoas que estejam infectadas, mas permanecem assitomáticas.
Durante o exercício físico, uma série de citocinas pró e antiinflamatórias são liberadas, há incremento na circulação de linfócitos, assim como no recrutamento celular. Tais efeitos levam ao melhor controle da resposta inflamatória, reduzem os hormônios do estresse e resultam em menor incidência, intensidade de sintomas e mortalidade frente à ocorrência de infecções virais, especialmente as respiratórias.
O ideal é fazer exercícios físicos de moderada intensidade, realizados ≥ 3x/semana, com duração de 45 – 60 minutos e/ou 50 – 70% do consumo máximo de oxigênio, estimulam a imunidade celular por meio de aumento da liberação de IL-2, recrutamento de células Natural Killer (NK), redução do estresse oxidativo, elevação da concentração de leucócitos (30 -120 minutos após a atividade física persistindo até 24h), e estímulo ao IFN-y e supressão de IL-1β, IL-6 e TNF-α, proporcionando uma melhor imunuvigilância. Portanto há controvérsias quanto às práticas físicas prolongadas (>2h e/ou 80% do consumo máximo de oxigênio) ou alta intensidade (especialmente de forma não habitual), sem descanso apropriado, com prejuízo na imunidade celular, com maior propensão as doenças infecciosas.
O treinamento realizado de forma controlada e periodizada tem demonstrado melhorar a função imune que fará com que o organismo do infectado seja mais reativo a doença, ou seja, esteja mais pronta para enfrentar e vencer o coronavírus. O exercício físico não imuniza as pessoas contra o COVID-19, mas auxilia na resposta imunológica do corpo.
Grupo de risco e a prática de exercícios físicos:
O papel dos exercícios físicos tem um papel fundamental, principalmente para o grupo de risco. Possuem três pilares importantes e específicos: capacidade funcional, controle da comorbidade e melhora da imunidade.
A capacidade funcional está relacionada com a capacidade dos indivíduos em realizar suas funções habituais. O problema é que boa parte da capacidade funcional, atrelada as atividades físicas e motoras, está relacionada ao estilo de vida ativo e o distanciamento social e a conseqüente diminuição dos níveis de atividade física pode gerar graves conseqüências a saúde.
Apesar de o distanciamento social ser de grande valia para controlar a disseminação do vírus SARS-coV2, é imprescindível que as pessoas, principalmente os idosos continuem a se exercitar para evitar perdas na sua funcionalidade, pois esse processo de perda de capacidade funcional ocorre rapidamente, duas semanas sem se exercitar podem ser suficientes para registrar diminuição da funcionalidade e aumento do percentual de gordura em pessoas idosas. Ou seja, é preciso se exercitar mesmo estando em casa.
Indivíduos com comorbidades devem ter o hábito de praticar exercícios físicos, mesmo estando em casa, pois isso se deve ao fato da diminuição do risco de desenvolver complicações associadas ao COVID-19 quando a comorbidade pré-existente está controlada. Por exemplo, no caso do diabetes se a glicemia estiver controlada o risco de mortalidade é diminuído e a prática regular de exercícios físicos é um fator adjuvante no controle glicêmico, assim como no controle da hipertensão arterial, da obesidade, entre outros.
Nutrição e COVID-19
O Conselho Federal de Nutricionistas reforçou a importância de uma alimentação equilibrada e balanceada, rica em nutrientes, além de enfatizar que não existem superalimentos, fórmulas, “shots”, sucos ou soroterapias por infusão endovenosa de nutrientes, que sejam indicados para prevenir ou até mesmo tratar pessoas contaminas pelo vírus.
A restrição calórica leve para perda de peso, somada à prática de exercícios físicos moderado, pode contribuir para melhorar a resposta imunológica e redução das complicações por COVID-19 entre aqueles com excesso de peso. Nesse cenário, profissionais de nutrição e educação física podem auxiliar na adaptação da rotina alimentar e de exercícios durante o período de isolamento e, portanto, prevenir modificações indesejadas no peso corporal e na saúde.
Durante a pandemia, é natural o aumento de sintomas de ansiedade e depressão, que são fatores de risco para a fome emocional e o comer compulsivo muito prevalente entre indivíduos que possuem excesso de peso. A obesidade é um fator de risco para outras comorbidades, e, como já era esperado, está associado a um pior prognóstico em casos de COVID-19.
No entanto, três grandes desfechos são prováveis durante a pandemia de COVID-19: aumento do peso/ compulsão alimentar, carência alimentar/ desnutrição e manutenção do peso/ melhora da qualidade alimentar. A ocorrência desses desfechos será influenciada pela combinação de fatores econômicos, psicológicos e ambientais que determinam o comportamento alimentar.
Considerações Finais:
A prática regular de exercícios físicos, mesmo nos tempos de distanciamento social é de suma importância para aumentar o nosso sistema imunológico, em conjunto com uma alimentação balanceada, rica em nutrientes. Além disso, é muito importante que se enfatize também a redução do comportamento sedentário, ou seja, o tempo que fique sentado, deitado ou reclinado à frente da televisão.
Podemos observar neste artigo, que a atividade física é essencial em todas as faixas etárias, principalmente aos idosos, melhorando sua funcionalidade e para os indivíduos com doenças Pré-existentes.
Podemos finalizar que mesmo com o distanciamento social, a prática de exercícios físicos não deve ser esquecida, pois além de melhorar o sistema imunológico irá auxiliar os sintomas de depressão, ansiedade e compulsão alimentar.
Referencia Bibliográfica
VELAVAN, TP.; MEYER, CG. The COVID‐19 epidemic. Trop Med Int Health, 25(3), 278-280, 2020, doi.org/10.1111/tmi.13383.
LAU, H.; KHOSRAWIPOUR, V.; KOCBACH, P.; MIKOLAJCZYK, A.; ICHII, H.; SCHUBERT, J. et al. Internationally lost COVID-19 cases.Microbiol Immunol Infect,pii: S1684- 1182(20), 2020, 30073-6. doi.org/10.1016/j.jmii.2020.03.013.
CHEN, P.; MAO, L., NASSIS, G. P.; HARMER, P.; AINSWORTH, B. E.; LI, F. Coronavirus disease (COVID-19): The need to maintain regular physical activity while taking precautions. Journal of sport and health science, 9(2), 103–104, 2020, doi.org/10.1016/j.jshs.2020.02.001.
BARBALHO, M. de S. M.; GENTIL, P., IZQUIERDO, M.; FISHER, J.; STEELE, J.; RAIOL, R. de A. There are no no-responders to low or high resistance training volumes among older women. Experimental Gerontology, 99, 18–26, 2017, doi.org/10.1016/j.exger.2017.09.003.
Ministério da Saúde, https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca. Acesso dia 08/Mar/2021.
LUAN, X.; TIAN, X.; ZHANG, H.; HUANG, R.; LI, N.; CHEN, P.; WANG, R. Exercise as a prescription for patients with various diseases. Journal of sport and health science, 8(5), 422–441, 2019, doi.org/10.1016/j.jshs.2019.04.002.
CAMPBELL, J. P.; TURNER, J. E. Debunking the Myth of Exercise-Induced Immune Suppression: Redefining the Impact of Exercise on Immunological Health Across the Lifespan. Frontiers in immunology, 9, 648, 2018, doi.org/10.3389/fimmu.2018.00648.
WU, Y.; HO, W.; HUANG, Y.. JIN, D. Y.; LI, S.; LIU, S.L. et al. SARS-CoV-2 is an appropriate name for the new coronavirus.Lancet, 395(10228), 949-950, 2020, doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30557-2.
DUARTE, R. O exercício físico no combate à COVID-19. Portal PubMed, https://pebmed.com.br/o-exercicio-fisico-no-combate-a-covid-19/. Acesso, 08 de Março de 2021.
JOY, L. Staying Active During COVID-19. EIM Blog – American College of Sports Medicine, disponível em https://www.exerciseismedicine.org/support_page.php/stories/?b=892 , 2020.
JIMENEZ-PAVON, D.; CARBONELL-BAEZA, A.; LAVIE, C. J. Physical exercise as therapy to fight against the mental and physical consequences of COVID-19 quarantine: Special focus in older people.Prog Cardiovasc Dis, piiS0033-0620(20)30063-3, 2020, doi.org/10.1016/j.pcad.2020.03.009.
OWEN, N.; SPARLING, P. B.; HEALY, G. N.; DUNSTAN, D. W.; MATTHEWS, C. E. Sedentary behavior: emerging evidence for a new health risk. Mayo Clinic proceedings, 85(12), 1138–1141, 2010, doi.org/10.4065/mcp.2010.0444.
COSWIG, V. S.; BARBALHO, M.; RAIOL, R.; DEL VECCHIO, F. B.; RAMIRES-CAMPILLO, R.; GENTIL, P. Effects of high vs moderate-intensity intermittent training on functionality, resting heart rate and blood pressure of elderly women. Journal of translational medicine, 18(1), 88, 2020, doi.org/10.1186/s12967-020-02261-8.
GUPTA, R.; GHOSH, A.; SINGH, A. K.; MISRA, A. Clinical considerations for patients with diabetes in times of COVID-19 epidemic.Diabetes MetabSyndr, 14(3), 211-212, 2020, doi.org/10.1016/j.dsx.2020.03.002
RAIOL, R. A. Physical exercise is essential for physical and mental health during the COVID-19 pandemic. Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 3, n. 2, p. 2804-2813 mar./apr. ISSN 2595-6825, 2020.
CFN – Conselho Federal de Nutricionistas. “Nota Oficial: Orientações à população e para os nutricionistas sobre o novo coronavírus”. Portal Eletrônico do CFN [2020]. Disponível em . Acesso em: 09/03/2021.
LI, X. et al. “Clinical characteristics of 25 death cases with COVID-19: a retrospective review of medical records in a single medical center, Wuhan, China”. International Journal of Infectious Diseases, vol. 94, 2020.
SIMONNET, A.; CHETBOUN, M.; POISY, J.; RAVERDY, V.; NOULETTE, J.; DUHAMEL, A. “High prevalence of obesity in severe acute respiratory syndrome coronavirus-2 (SARS-CoV-2) requiring invasive mechanical ventilation”. Obesity, vol. 28, n. 7, 2020.
JUNIOR, L. C. L. Alimentação Saudável e exercícios físicos em meio à pandemia da COVID-19. Boletim de Conjuntura (Boca), ano II, v.3, n.9, Boa Vista, 2020.