O Diabetes Mellitus (DM) é definido como um grupo de desordens metabólicas caracterizado pela hiperglicemia, resultante de defeitos na secreção de insulina, ação desta ou ambas. O Diabetes gestacional (DG) é definido como algum grau de intolerância à glicose com início ou reconhecimento na gestação, podendo ou não persistir após o parto. Em ambos os casos, se não houver tratamento adequado, aumenta o risco de morbimortalidade perinatal, macrossomia fetal e malformações.

O Diabetes Mellitus (DM) é definido como um grupo de desordens metabólicas caracterizado pela hiperglicemia, resultante de defeitos na secreção de insulina, ação desta ou ambas. O Diabetes gestacional (DG) é definido como algum grau de intolerância à glicose com início ou reconhecimento na gestação, podendo ou não persistir após o parto. Em ambos os casos, se não houver tratamento adequado, aumenta o risco de morbimortalidade perinatal, macrossomia fetal e malformações.

É o problema metabólico mais comum na gestação e tem prevalência em 3% a 25% das gestações. A Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) representa 0,7% das causas indiretas de óbitos materno no Brasil, com maiores taxas na Região Centro-Oeste e o diabetes preexistentes representa 0,5% dos óbitos, com maiores taxas na Região Sul do país.

Na tabela 1 nos mostra os principais fatores de rico para DMG:

Idade materna avançada

Sobrepeso, obesidade ou ganho excessivo de peso na gravidez atual

Deposição central excessiva de gordura corporal

História familiar de diabetes em parentes de primeiro grau

Crescimento fetal excessivo, polidrâmnio, hipertensão ou pré-eclâmpsia na gravidez atual

Antecedentes obstétricos de abortamentos de repetição, malformações, morte fetal ou neonatal, macrossomia ou DMG

Síndrome de ovários policísticos

Baixa estatura (Menos de 1,5m)

Hemoglobina glicada ≥ 5,9% no primeiro trimestre

Tabela1:Fatores de rico para DMG – Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes (2019-2020)

Diagnóstico do Diabetes Mellitus Gestacional:

Para o diagnóstico da DMG foi proposto novo ponto de corte para o jejum, em 1 e 2 horas, que são ≥ 92 mg/dL, ≥180 mg/dL e ≥153 mg/dL, respectivamente, conforme nos resultados de estudo do Hyperglycemia and Adverse Pregnancy Outcomes (HAPO). Segundo esses novos critérios, um valor anormal já leva ao diagnóstico de DMG, conforme a tabela 2 nos mostra.

Tabela 2: Diagnóstico do DMG

Em 2017, a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), juntamente com a Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FREBASGO), com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e com o Ministério da Saúde do Brasil definiram uma proposta conjunta de padronização do rastreamento e diagnóstico do DMG no país.

Os critérios foram baseados nos que foram aceitos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2013. Segue abaixo as recomendações:

  • Fatores clínicos de risco: a utilização de fatores clínicos de risco como forma de rastrear gestantes que devem ser submetidas a testes diagnósticos para DMG não é ideal, pois apresenta baixa sensibilidade;

  • Diagnóstico universal: deve-se proporcionar a todas as gestantes a possibilidade de diagnóstico de DMG;

  • Viabilidade financeira e disponibilidade técnica do teste proposto: o método diagnóstico a ser utilizado deve ser o melhor possível dentro da capacidade da região;

  • Teste com melhor sensibilidade/ especificidade: considera-se que o teste com melhor sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de DMG é o teste oral de tolerância à glicose (TOTG) com 75g, com dosagens em jejum, 1 e 2 horas após e com os valores propostos pelo IADPSG (International Association of the Diabetes and Pregnancy Study Group) e referendados pela OMS 2013.

Na primeira consulta de pré natal, deve solicitar o exame de glicemia em jejum com objetivo de detectar diabetes preexistente.

Se o valor encontrado for ≥126 mg/dL, será feito o diagnóstico de DM diagnosticado na gestação.

Se a glicemia plasmática em jejum for ≥92 mg/dL e <126 mg/dL, será feito o diagnóstico de DMG. Em ambos os casos, deve-se confirmar o resultado com uma segunda dosagem de glicemia em jejum.

No entanto, podemos afirmar:

  • Diabetes Mellitus Gestacional (DMG): mulher com hiperglicemia detectada pela primeira vez durante a gravidez, com níveis glicêmicos sanguíneos que não atingem os critérios diagnósticos para DM.

  • Diabetes Mellitus diagnosticado na gestação (overt diabetes): mulher sem diagnóstico prévio de DM, com hiperglicemia detectada na gravidez e com níveis glicêmicos sanguíneos que atingem os critérios da OMS para DM fora da gestação.

Caso a glicemia antes da 20º semana seja < 92 mg/dL, a gestante deve realizar um novo TOTG no segundo trimestre, entre a 24º e 28º semanas de gestação.

Terapia nutricional para Diabetes Mellitus Gestacional

O objetivo da terapia nutricional para os casos de DM é manter a normoglicemia, favorecendo o nascimento de concepto a termo, vivo, com peso adequado, com menor risco de distúrbios respiratórios e malformações congênitas. É de suma importância um acompanhamento com a equipe de saúde e a educação nutricional merece papel de destaque.

A terapia nutricional – gestantes com peso adequado deve ingerir 30 Kcal/Kg de peso, as obesas devem reduzir a ingestão calórica a 25 kcal/kg de peso atual por dia e grávidas de baixo peso, 35 kcal/kg por dia. A proporção recomendada dos nutrientes é de 40% – 50% dos carboidratos, 25% – 30% das proteínas e 25 % – 30% das gorduras por refeição. Nos 2º e 3º trimestres de gestação, deve-se adicionar 300 kcal por dia.

Os exercícios físicos – seu principal objetivo é diminuir a resistência insulínica por meio da atividade física, proporcionando maior afinidade da ligação entre a insulina e o seu receptor nos tecidos periféricos. É importante avaliar a freqüência cardíaca materna e fetal , além da pressão arterial da gestante.

A terapia medicamentosa – sugere-se intervenção medicamentosa quando a glicemia de jejum atingir, num intervalo de duas semanas, um valor superior a 90 mg/dL ou uma concentração pós prandial de 120 mg/dL, duas horas após a refeição. Há duas maneiras de controlar a glicemia de forma medicamentosa: a insulina, único método recomendado nos EUA e o uso de medicamentos hipoglicemiantes orais. As desvantagens de se iniciar a terapia insulínica incluem a necessidade de se aplicar injeções diariamente, o risco de estabelecimentos de quadros hipoglicêmicos, o aumento do apetite e, conseqüentemente, do peso materno.

Já o medicamento hipoglicemiante ainda não são indicados por falta de evidências científicas que recomendem seu uso. No entanto, foi realizado um estudo com a droga glibenclamida, mas vale ressaltar que o uso dessa droga ainda não foi aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA). É importante ressaltar que a dose dos fármacos a serem administrados varia em função dos índices de obesidade, características étnicas, alimentares e de outros critérios demográficos de cada população.

Recomendações de Vitaminas e Minerais:

A suplementação de ácido fólico no período pré-gestacional é benéfica para a prevenção de defeitos congênitos do tubo neural. Temos que nos atentar também a suplementação de ferro, pois deve seguir as mesmas recomendações para mulheres não diabéticas.

A ingestão de nutrientes antioxidantes (Vitamina C, E, selênio e betacaroteno) deve ser estimulada, devido ao aumento do estresse oxidativo que ocorre no diabetes mellitus.

A dieta deve ser equilibrada e adequada em potássio, magnésio, zinco e cromo, pois a deficiência destes nutrientes pode agravar a hiperglicemia.

Índice Glicêmico dos alimentos

Indivíduos com um plano alimentar adequado, equilibrado, e um consumo adequado de carboidratos e uma distribuição destes ao longo do dia são capazes de controlar a glicemia, reduzir a incidência de macrossomia e a necessidade de insulina. A recomendação de carboidratos deve ser individualizada, de acordo com a capacidade da gestante em tolerá-los, suas necessidades e hábitos alimentares. Na tabela 2, logo abaixo, serão apresentados aos alimentos e o índice glicêmico. Contudo, sugere evitar o consumo de dois alimentos de alto índice glicêmico na mesma refeição.

Baixo Índice Glicêmico (>60)

Médio índice glicêmico (60 e 85)

Alto índice glicêmico (>85)

Ameixas

Arroz

Batatas

Amendoim

Arroz Integral

Bebidas para esporte com açúcar

Cerejas

Aveia

Biscoitos

Feijão

Banana

Cenouras

Feijão-fradinho

Batata-doce

Glicose

Figo

Beterraba

Doces

Grão de bico

Ervilhas

Mel

Iogurte

Inhame

Melaço

Leite desnatado

Macarrão

Pão branco de trigo

Lentilha

Macarrão Integral

Sacarose

Maçã

Milho

Xarope de milho

Pêssego

Uvas

Passas

Tâmaras

Pão integral de centeio

Suco de uva

Tabela 2: Índice glicêmicos dos alimentos – Fonte: Livro: Nutrição em obstetrícia e pediatria, 2009.

A relação do consumo pré-gestacional de fibras, de frutas, vegetais, cereais e índice glicêmico concluiu que cada 10g/dia do consumo total de fibras esteve associado à redução de 26% do risco de diabetes gestacional, enquanto cada 5g/dia do consumo de fibras de cereais ou frutas contribuiu para redução de 23% e 26% do risco de desenvolver esta complicação gestacional, respectivamente. Podemos concluir que dieta pré gestacional parece estar associada ao risco de diabetes gestacional, em especial, dietas com alto índice glicêmico e baixo teor de fibras.

Conclusão:

Indivíduo que mantém uma rotina saudável, com peso adequado, consome fibras, verduras, legumes regularmente e praticam exercícios físicos freqüentes, possuem menores chances de desenvolver Diabetes Gestacional.

As Sociedades Médicas reforçam um controle adequado da glicemia durante toda a gestação, pois as conseqüências podem ser danosas, tanto para a mãe quanto para o concepto.

Contudo, podemos concluir que um diagnóstico precoce são estratégias fundamentais para uma gestação saudável, melhorando a qualidade de vida.

Referências Bibliográficas

American Diabetes Association. Nutrition Recommendations and Interventions for Diabetes. A position statement of the American Diabetes Association. Diabetes Care; 31(Suppl 1); pag 561-578, 2008.

Ministerio de Saude (MS). Pré natal e Puerpério. Atenção qualificada e humanizada. Manual técnico. Brasília: MS, 2006.

SACKS D.A, HADDEN D.R, MASESH M, DEEROCHANAWONG C, DYER A.R, METZGER B.E et al. Frequency of gestational diabetes mellitus at collaborating centers based on IADPSG consensus panel-recommended criteria: the Hyperglycemia and Adverse Pregnancy Outcome (HAPO) study. Diabetes Care;35(3):526-8; 2012.

BRANCHTEIN L., SCHMIDT M.I, MATOS M.C, YAMASHITA T., POUSADA J.M, DUNCAN B.B. Short stature and gestational diabetes in Brazil. Brazilian Gestational Diabetes Study Group. Diabetologia;43(7):848-51; 2000.

International Association of Diabetes and Pregnancy Study Groups Consensus Panel. METZGER B.E; GABBE S.G; PERSSON B.; BUCHANAN T.A, CATALANO P.A et al. International Association of Diabetes and Pregnancy Study Groups recommendations on the diagnosis and classification of hyperglycemia in pregnancy. Diabetes Care.; 33(3):676-82;2010.

HAPO Study Cooperative Research Group. METZGER B.E; LOWE L.P; DYER A.R; TRIMBLE E.R; CHAOVARADIR U. et al. Hyperglycemia and adverse pregnancy outcomes. N Engl J Med; ;358(19):1991-2002; 2008.

Organização Pan-Americana da Saúde, Ministério da Saúde, Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, Sociedade Brasileira de Diabetes. Rastreamento e diagnostico de diabetes mellitus gestacional no Brasil. Brasília, DF: Organização Pan-Americana da Saúde; 2017.

World Health Organization. Diagnostic criteria and classification of hyperglycaemia first detected in pregnancy [Internet]. Genebra; 2013 [accessed 2021 Fev 4]. Available from: http://

apps.who.int/iris/bitstream/10665/85975/1/WHO_NMH_ MND_13.2_eng.pdf.

Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes Sociedade Brasileira de Diabete. Editora Científica Clannad. 2019 – 2020.

Proceedings of the 4th International Workshop-Conference on Gestational Diabetes Mellitus. Chicago, Illinois, USA. 14-16 March; Diabetes Care. 1998; 21(Suppl 2):B1-167; 1997.

American College of Obstetricians and Gynecologists Committee on Practice Bulletins–Obstetrics. ACOG Practice Bulletin. Clinical management guidelines for obstetrician-gynecologists. Number 30, September 2001 (replaces Technical Bulletin Number 200, December 1994). Gestational diabetes. Obstet Gynecol; 98:525-38; 2001.

CONWAY D.L. Obstetric management in gestational diabetes. Diabetes Care; 30 (Suppl 2):S175-9; 2007.

RUDGE M.V.C, AMARAL M.J. (Eds). Diabete e hipertensão na gravidez: manual de orientação. FEBRASGO.

São Paulo;. 94p. ; 2004.

VIDAEFF A.C, YEOMANS E.R, RAMIN S.M. Gestational diabetes: a field of controversy. Obstet Gynecol Surv.;58:759-69; 2003.

CROWTHER C.A, HILLER J.E, MOSS J.R, McPHEE A.J, JEFFRIES W.S, ROBINSON J.S. Effect of treatment of gestational diabetes mellitus on pregnancy outcomes. N Engl J Med.; 352:2477-86; 2005.

ZAVORSKY G.S, LONGO L.D. Exercise guidelines in pregnancy: new perspectives. Sports Med.; 41:345-60; 2011.

LANDON M.B, SPONG C.Y, THOM E., CARPENTER M.W., RAMIN S.M., CASEY B., et al. A multicenter, randomized trial of treatment for mild gestational diabetes. New Engl J Med.; 361:1339-48;2009.

GARCIA-BOURNISSEN F., FREIG D.S., KOREN G. Maternal-fetal transport of hypoglycaemic drugs. Clin Pharmacokinet.; 42:303-13; 2003.

LANGER O., CONWAY D.L., BERKUS M.D., XENAKIS E.M., GONZALES O. A comparison of glyburide and insulin in women with gestational diabetes mellitus. N Engl J Med.; 343:1134-8; 2000.

ACCIOLY E., SAUNDERS C., LACERDA E.M.A. Nutrição em obstetrícia e pediatria; 2º Ed – Rio de Janeiro: Cultura: Médica: Guanabara Koogan; 2009.

MAJOR C A.; HENRY J.; VECIANA M.; MORGAN M A. The effects of carbohydrate restriction in Patients with diet – controlled Gestacional Diabetes. Obstet Gynecol. 91 (4): 600-4; 1998.

MARCASON W. What is the appropriate amount and distribuition of carbohydrates for a woman diagnosed with gestacional diabetes mellitus? J Am Diet Assoc. 105 (10): 1673; 2005.

ZHANG C.; LIU S.; SOLOMON C G.; HU F B. Dietary fiber intake , dietary glycemic load, and the risk for gestacional diabetes mellitus. Diabetes Care, 29 (10); 2223-30; 2006.